Textos


Transmutação  

Não me verás a dor, pois mostro apenas

a mão que apara os golpes mais adversos.

Um lânguido sorriso esconde as penas:

não me verás chorar, pois choro em versos.

(Ser sílaba, Janske Niemann, Holanda, 1933, Academia Paranaense de Poesia)

 

 

Jamais irás saber da dor que me esviscera,

ou me ouvirás chorar – poeta não lastima –

transforma tal penar em prosa, trova, rima,

traduz qualquer sofrer em sonho, paz, quimera.

 

Se o gume da tristeza o peito dilacera,

transmuda o breu em luz e nunca desamina,

rabisca algum soneto, o pensamento acima

da mágoa, sempre atroz e, às vezes, tão severa.

 

Apenas sou a Flor que, aos poucos, se emurchece

silente, a transformar o padecer em prece,

a versejar o amor, em tempos tão adversos.

 

E nunca irás ouvir, de mim, qualquer lamento,

sequer um aí direi, poemas te apresento,

converto sal em mel e lágrimas em versos.

 

Edir Pina de Barros

 

 

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 18/01/2022
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários