Penélope
Os fios do meu ser eu mesma cardo e urdo,
com fortes laços sigo e o meu viver eu teço...
Refaço, sem cessar, do fim até o começo,
com tanta obstinação, de um modo até absurdo.
Mas não me importo, não, se enlaço ou se desurdo,
prossigo o meu urdir, e nunca me aborreço,
se necessário for desfaço desde o avesso
neste fazer sem fim de meu destino surdo.
E tramo sem cessar a minha tessitura,
labuto à luz do sol, no breu da noite escura,
sem nunca descansar avanço passo a passo.
Coloco em meu tecer as sedas da poesia,
um pouco de ilusão, que ao sonho se associa,
mas se preciso for teço com fios de aço!