Cinza
Recorda-te de mim enquanto morre o dia
e tudo ao derredor espelha os tons de mágoa,
auripurpúreos tons... Eu, que no peito trago-a,
relembrarei de ti nos véus que o ocaso fia.
Recordo-me de ti nas horas sem poesia,
em que sufoco a dor, no cerne da alma esmago-a
e livre da tristeza e dessa imensa frágua,
volto a pensar em nós e tudo me extasia.
Recorda-te do amor, que outrora foi o brinde,
que a vida concedeu e trouxe a paz infinda,
a dádiva maior, da qual ninguém prescinde.
Sem ti o pôr do sol se torna triste e cinza
pois toda a luz do sonho, a nuvem cobre e blinda,
impõe-me a solidão e tudo, em mim, se encinza.