Impasse
Tristeza que me vem na noite fria e escura,
com ares de candura e amena feito a brisa,
porém, à sua guisa, atroz, me coloniza,
no corpo se enraíza e, aos poucos me amargura.
Filha da dor, da agrura, o mal que em mim se amura,
carente de brandura, austera e tão precisa,
apenas sou poetiza, a que te romantiza,
que, em versos idealiza a tua formosura.
Eu sempre cantarei, e em teu louvor eu canto,
mesmo que caia o pranto, e minha vista embace,
a me encharcar a face, a me imolar, portanto.
Aqui no meu recanto, eu vivo nesse impasse,
pois nesse louco enlace, eu sempre, sim, me espanto
porque tu ficas tanto, embora o tempo passe.
Edir Pina de Barros, Flor do Cerrado
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