Espelho
Sou pássaro que adeja entregue ao vento,
nos vendavais prossigo sempre adiante,
sem nada que me impeça ou que me espante,
com muita perspicácia a tudo enfrento.
Sou rio, muitas pedras sedimento,
contorno mil barreiras, a jusante,
sempre a buscar além, veloz, constante,
o mar, que é o meu destino e meu tormento.
Sou pássaro e sou rio, vento e água,
arrosto minha dor, no peito esmago-a,
sem permitir um ínfimo suspiro.
Viver é transcender a própria sorte,
buscar a paz em tudo que a comporte:
é na montanha que me espelho, inspiro.
Edir Pina de Barros