Textos


Confissões

 

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

 

(Aquela, Hilda Hilst, São Paulo, 1930-2.004)

 

 

Quisera ser aquela – a que, na vida, esperas –

mas sou igual à flor que viça no cerrado,

que nasce sobre o pó do solo já crestado,

temente de paixões, de sonhos e quimeras.

 

Quisera ser submissa e ser, também, deveras,

aquela que se deita e sonha ter-te ao lado

eternamente amor, o corpo abandonado,

cravado em tua tez, tal qual no muro as heras.

 

Seria muito bom querer-te desse jeito,

sempre a aguardar por ti nas sedas de teu leito,

com lingerie azul, à espera que me rendas.

 

Que pena eu ser assim! Também não ser aquela

que vive ao lado teu, feliz, atenta e bela

sempre a esperar por ti, nos seios, lábios, fendas.

 

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 05/05/2025
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