SIAMESAS
Eu beijo a vida como beijo a morte
(Carmen Lúcia da Cunha Moraes, poema “Purificação”)
Eu beijo a vida como beijo a morte,
duas irmãs que não se apartam, nunca,
uma nos leva, tem a garra adunca,
para os confins do eteno, firme e forte.
Mesmo que em meus sonetos muito a exorte,
com a arte que o viver meus versos junca,
é frágil, a outra, seja boa ou funca,
a depender, quiçá, do azar ou sorte.
Nasceram juntas, univitelinas,
mas diferentes são em suas sinas,
nos ciclos do existir da humanidade.
Entre essas duas, tudo se processa,
a vida é um vir a ser, sutil promessa
e a morte é ser sagaz que a tudo invade.
Edir Pina de Barros