Insânia
Na extrema solidão em que me vejo,
eu penso em ti. E quando assim me ponho,
entre a luz do real e o breu do sonho,
teu vulto, sim, revejo, altivo e andejo.
Desvelo o teu semblante. Em um lampejo
de insensatez tocar-te me proponho,
mas tu te afastas, lívido e tristonho,
indiferente a mim e ao meu desejo.
Ainda escuto a tua voz rouquenha,
que me penetra fundo, em mim se embrenha,
a declamar teus versos... Só prossigo,
nos ermos mais profundos de mim mesma,
a te buscar, ó, pálido abantesma
do pai que tive, grande mestre e amigo.
Edir Pina de Barros