Medo
Tenho medo de ti e deste amor
Que à noite se transforma em verso e rima...
(Sonetos que não são – IV. Hilda Hilst, São Paulo, 1.930 – 2.004)
Tenho medo do amor que me excrucia,
medo de ti e desse olhar profundo,
que planta tantos sonhos no meu mundo
e neste meu viver a poesia.
Tenho medo do medo – quem diria –
de te perder no instante de um segundo,
quando no corpo teu eu me transfundo
no ser que, em ti, renasce dia a dia.
Tenho medo infinito do finito
que em tudo está presente, quando fito
alguém perder alguém que mais estima.
Tenho medo que um dia tal ternura,
na qual a minha vida se estrutura,
torne-se, enfim, apenas verso ou rima.