Metáforas
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
(Da vez primeira em que me assassinaram, Mario Quintana)
Morri aos poucos, sem morrer, contudo,
levaram-me os pedaços, dia a dia,
minha inocência, sonhos, fantasia,
violaram, mas com luvas de veludo.
Gadanhos impiedosos, a miúdo,
levaram-me as fatias da fatia
da minha essência e tudo que mais cria,
restando-me a estesia por escudo.
Chacais e corvos! Mas mantenho a luz
que me ilumina a estrada e me conduz
aos campos da poesia tão sem fim.
A luz do vate não se apaga, nunca,
porque com versos seu caminho junca
e agora sou metáfora de mim.
Edir Pina de Barros