Harpia (2)
Teus olhos me perscrutam, dentro e fora,
à busca de recôndito segredo,
porém se te aproximas longe quedo,
em meus sombrios ermos ele mora.
E quanto mais me espreitas com demora,
mais eu me imponho um íntimo degredo,
pois tal intimidade não concedo
e cerro a minha Caixa de Pandora.
O teu olhar – navalha fina em riste –
não sei porque me sonda e, assim, insiste
em devassar meu ser – arisca harpia
que gosta de adejar sozinha e à toa,
nos cumes das montanhas, voa e voa,
entregue ao vasto céu da poesia.
EDIR PINA DE BARROS