Mó
Saudade, torvelinho edaz que vem, me esmaga,
A dolorosa saga, abutre que eu aninho,
Lacera mais que espinho e sangra mais que adaga,
Que me tritura e traga igual voraz moinho.
Nos meus lençóis de linho aumenta mais que praga
No instante que se apaga a luz e me avizinho
Do fim do meu caminho – o mal que se propaga
E que jamais me afaga ou faz-me algum carinho.
A mó atroz, voraz, que meu viver fratura
E deixa, enfim, tristura e vincos no meu rosto,
As marcas do desgosto e de agonia pura.
A dor que não se cura, eterna, por suposto,
E deixa o ser exposto à mágoa, desventura,
Às margens da loucura ou sem prazeres, gosto.
Soneto escrito para uma trilha do Fórum do Soneto, com rimas internas