Desventura
“Foge-me a vida no correr do pranto”
Mas canto, sem cessar, a desventura
Da morte que me espia e, enfim, me amura
Neste jardim sem flor. E eu não me espanto.
Refém de algum porvir em desencanto
Prossigo agonizante e na clausura,
Levando na alma a dor que não se cura
E que, apesar da luta, não suplanto.
Rumino a mágoa infinda desta sina
Que me persegue desde pequenina
e me condena, o tempo me abrevia.
Se acaso fui feliz, sonhei, deveras,
No colo tão macio das quimeras,
“Minha ventura só durou um dia”.
Edir Pina de Barros
O primeiro e o último versos são de autoria de Auta de Souza, soneto Hoje.