Confissão
“Hoje que a mágoa me apunhala o seio”,
e sorvo, da descrença, a seiva amarga,
levando, no meu peito, a dura carga
de nunca ter o amor que tanto anseio.
Agora já nem sonho e em nada creio,
E a dor somente cresce e em mim se alarga,
Deixando em meu viver a sobrecarga
de andar ao léu, sem sonho, devaneio.
Sou sombra que sozinha vai, se arrasta
Nos vãos da noite escura, densa e vasta,
E some no horizonte, desvalida.
Maldigo o meu querer que tu renegas,
Que me deixou assim, andando às cegas,
“mas que no entanto me alimenta a vida”.
Edir Pina de Barros
O primeiro e o último versos são de autoria de Augusto dos Anjos, soneto Saudade
Escrito para a trilha do Fórum do Soneto.
Tela: Guillaume Seignac-Diana, the Huntress