“Gargalha, ri, num riso de tormenta,”
sufoca a imensa dor que o desviscera,
fingindo ser hercúlea e forte fera,
que tudo em si suporta, tudo aguenta.
E gargalhar bem mais ainda tenta
enquanto a intensa mágoa o dilacera,
esgarça a carne, igual voraz pantera
de sangue desejosa e tão sedenta.
Contorce o corpo, salta longe e volta
mas não revela, não, qualquer revolta
os músculos retesos feito um aço.
E quando, então, chegar ao fim da cena,
como se fosse mesmo alguma hiena
“ri! Coração, tristíssimo palhaço.”
Edir Pina de Barros
Fórum do Soneto - TRILHA DE SONETOS XCI - primeiro e décimo quarto versos são de autoria de Cruz e Souza, "ACROBATA DA DOR"