Primavera
Ah! Quem nos dera que isto, como outrora,
Inda nos comovesse! Ah! quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos agora
Ver o desabrochar da primavera!
(Primavera, Olavo Bilac)
Recordo-me de ti, de teu semblante,
Rosáceos lábios trêmulos, sem pejos,
no olhar pedinte, raios, relampejos,
de tua voz rouquenha e suplicante.
Recordo-me de ti a todo instante,
Teu peito arfante, os íntimos arquejos,
Os pés macios, sempre tão andejos,
Teu jeito ímpar, único e elegante.
Ai! Quem me dera ter-te como outrora,
E que te comovesses ao me ver
Igual procede alguém que o outro adora.
E ter o teu amor! Ai! Quem me dera!
Floresceria em meio a tal prazer
Ainda que findasse a primavera!