Chuva lenta
Todo o céu é um coração
aberto em agro tormento.
Não chove: é um sangrar longo
e lento.
(Chuva lenta, Gabriela Mistral, Chile, 1889-1957)
A chuva lenta cai na noite escura
e forma um véu de renda transparente,
porém ninguém percebe, ou mesmo sente
a dor que, em si, transporta e que murmura.
Do céu – um coração em farta agrura –
É o pranto que se verte no ambiente,
Edaz sangria antiga e tão pungente,
de algum sofrer que não se acaba ou cura.
A chuva lenta cai ... E cai bem calma
E sobre a terra seca vai, se espalma,
Mas não acalma a fonte da tormenta.
Chacal que espreita ao longe a mata, a serra,
O firmamento obscuro, em si, encerra
Um cíclico penar que o desalenta.