Compaixão
Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;
(Soneto 35, William Shakespeare, Inglaterra, 1564-1616)
Por que chorar um erro cometido?
Se todos erram nesta vida, e tanto,
O mundo, assim, seria um mar de pranto,
De amor, de humanidade desprovido.
Em tudo algum defeito é percebido,
A rosa tem espinhos e, no entanto,
Exala seu perfume e, em versos, canto
o seu fulgor, de sonho revestido.
Nas pétalas o inseto busca abrigo,
Por isso mesmo penso e sempre digo:
Que a austeridade, à dor, não nos arraste!
Não chores, não, até na fonte o limo
Macula o belo, sim, que louvo e rimo,
porque ele pulsa em meio a tal contraste.