Transmutação
Não me verás a dor, pois mostro apenas
a mão que apara os golpes mais adversos.
Um lânguido sorriso esconde as penas:
não me verás chorar, pois choro em versos.
(Ser sílaba, Janske Niemann, Holanda, 1933, Academia Paranaense de Poesia)
Jamais irás saber da dor que me esviscera,
ou me ouvirás chorar – poeta não lastima –
transforma tal penar em prosa, trova, rima,
traduz qualquer sofrer em sonho, paz, quimera.
Se o gume da tristeza o peito dilacera,
transmuda o breu em luz e nunca desamina,
rabisca algum soneto, o pensamento acima
da mágoa, sempre atroz e, às vezes, tão severa.
Apenas sou a Flor que, aos poucos, se emurchece
silente, a transformar o padecer em prece,
a versejar o amor, em tempos tão adversos.
E nunca irás ouvir, de mim, qualquer lamento,
sequer um aí direi, poemas te apresento,
converto sal em mel e lágrimas em versos.
Edir Pina de Barros