Fluxos (Terza rima)
O amor curou meu ser, demais doente,
lançou seus raios sobre os meus escombros,
trouxe-me paz que pouca gente sente.
Sem fardo a carregar por sobre os ombros,
tornou-me o próprio sol em noite escura,
sem medo de viver, sem mais assombros.
Tirou-me a mágoa de uma dor sem cura,
tornando-a parte do processo-vida
e não um peso, como se afigura.
Tornou o meu viver suave lida
e mergulhei no mar de largas vagas
de teu olhar, de tudo destemida.
Agora me transbordo e tu me alagas
e inundados de luz nos entregamos...
Nada pergunto, nada tu me indagas.
E no silêncio, enfim, nós nos amamos
unidos pela força do universo
como a rosa e os espinhos de seus ramos.
Apenas um e nada mais que um verso.
* TERZA RIMA, poema de forma fixa, apresenta simetria baseada no número três. É o encadeamento de tercetos que rimam em esquema ABA, BCB, CDC, DED, EFE, etc. em versos decassílabos. A composição termina com um verso isolado que rima com o segundo verso do último terceto. A terza rima é também chamada de incatenata (encadeada). Foi criada pelo poeta italiano Dante Alighieri, que a usou pela 1ª vez em "A Divina Comédia".