Mãe-natureza
Mãe-natureza,
ventre generoso
da reprodução,
sempre a gestar
novas gerações,
no decorrer dos tempos
dos ciclos morte-vida.
Se tudo em si se esvai
na aridez dos dias,
do eterno vir a ser,
tudo ela renova
nos campos, matas,
pantanais e rios
no ritmo das cheias...
Renascem, flores
nos vales e campinas,
nas gretas dos rochedos,
orquídeas e bromélias
enfloram-se dia a dia,
os peixes sobem as águas
a buscar seus berçários.
O milho rasga a terra
e grão a grão renasce,
o camponês sorri
a vislumbrar fartura,
e tudo se refaz
a verdejar o olhar
antes vazio e triste.
Os pássaros entoam
os cantos matinais,
a vida se refaz
no vale dos encantos...
O gado pasta ao longe
os brotos da esperança
a vicejar nos campos.
Nos desertos
ressurgem os oásis
na extensa e morna areia...
Generosa e grande mãe
a suportar violências
mensageiras da morte
sem retorno, sem devir.
Um dia, menos dia
ela há de sucumbir,
violentada,
esviscerada
por aqueles filhos
que não repartem pão
têm sede de poder.
Os rios secarão,
secarão as águas,
as matas e o cerrado...
E então padecerá
a bicharada toda,
a humanidade inteira
há de cantar de dor.