Sobre a dor (3)
Edir Pina de Barros
Por que chorar a dor que nunca se depura?
Não há porque chorar, a dor que mora e hiberna
em nossos pantanais – mortal Hidra de Lerna –
e que poreja o mal, que nunca passa ou cura.
Não há porque chorar a fonte dessa agrura
que nunca se arrefece e que parece eterna
que tanto faz sofrer e tanto nos consterna
que não se vê o fim e nos sufoca, amura.
A dor que não tem cura e nunca passa, nunca,
que tem sabor de fel e tem a garra adunca
um dia amainará tornando-se agridoce.
Dormitará, quiçá, nos ermos d’alma infausta
- um dia há de cansar, há de ficar exausta –
e a vida há de sorrir, como se alegre fosse.
Brasília, 21 de Julho de 2016.
Lira insana, 2016: pg. 54