Textos


UMA ALMA VAGABUNDA
Marcos Loures

Coexistindo em mim a fêmea e o macho
Que tanto te procura e te sacia
Uma alma vagabunda e tão vadia

Às vezes te pisando sou capacho,

E quanto mais procuro menos acho
O rumo que me leve à fantasia
Deveras transbordando em agonia
O gozo se possível mais escracho.

Escrava que dos sonhos se assenhora
Pretendo tê-la aqui e sem demora
Vibrar com tua língua, lábios, dedos

Nos vários e distintos caminhares
Aos deuses e às deusas meus altares
Sortida imagem tramam tais enredos.

 

Alma sonhadora
Edir Pina de Barros


Tu’alma vagabunda, sedutora,
que vive a me buscar, em fantasia,
embora seja, às vezes, tão vadia,

cativa esta minh'alma sonhadora.
 
E quando, me cercando, me pastora
provoca dentro em mim uma agonia,
e fico tola e entregue à doce orgia,
no enlace de tu’alma caçadora.
 
E ponho-me a sonhar com loucos beijos,
o corpo se orvalhando de desejos,
do jeito que jamais tu hás sonhado.
 
Mas tu não vens! Sonhando tu te vais
e sonhas outra vez! E mais e mais!
E eu vivo a te esperar, ó, meu amado.

Pura chama, pg. 81



E Marcos Loures escreveu:

Vagando pelo mundo sem parada
O sonho traz a face que condena

E quanto se deseja mais amena,
A vida noutro rumo enveredada,

O passo se deseja e a vida brada
Vestindo com certeza a rara cena
E nisto a lua molda rara e plena
Prenunciando em nós tal alvorada,

E pouco importa até saber se eu vou
Além deste caminho em luzes fartas,
E quando dos meus passos tu te apartas

Lembrando cada sonho que restou
Em tantas expressões o amor que inundo
Transcende ao quanto eu seja vagabundo...
 
 
 
Resposta de Edir Pina de Barros

Então, agora e a ti, eu me confesso
que adoro ter-te assim mais atrevido,
porque meu coração, também bandido,
adora, da luxúria, todo excesso.
 
Sentir  o beijo teu em mim impresso,
Ardente de desejo desmedido,
Soltando, das entranhas, teu vagido,
Ardendo de paixão! D’amor possesso!
 
Dos sonhos teus desejo os  não sonhados,
Dos mornos beijos quero os não me dados,
Teus toques e carícias eu desejo!
 
Oh! Vem perder-te entre as minhas rendas,
buscar no corpo meu as tuas prendas,
entre suspiros, ais, calor, arquejos.
 
 
E Marcos Loures respondeu:

Tecendo este delírio aonde eu possa
Traçar outro caminho mais suave,

Sem nada que deveras nos entrave
O sonho pouco a pouco já se apossa

Da sorte que julgando rara e nossa,
O tempo noutro rumo não se agrave
E sigo o pensamento, como esta ave,
Que em rara sincronia o amor endossa,

Perdendo-me decerto em tais momentos
Vivendo o quanto possam sentimentos
Trazendo o encanto enquanto a vida expressa

Enredo-me nas rendas e nas teias,
E quando enfim percebo me incendeias,
No tanto que não fosse vã promessa...
 

 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 08/09/2011
Alterado em 18/04/2014
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