Artesã das dores
Descarocei profundas dores, uma a uma,
depois cardei as finas sedas alvadias,
e então fiei por muitas horas, noites, dias,
perdida dentro em mim, na minha própria bruma.
Das minhas tantas mágoas não urdi nenhuma,
apenas eu lembrei do tempo em que dizias
amar-me. E sim, senti saudades, nostalgias,
do amor que se desfez, de ti, de tudo, em suma.
Tecendo recordei de teu dulçor, candores,
e tudo já passou mas, para o meu espanto,
ficaste dentro em mim, persiste a luz do encanto.
Sou artesã. Transformo tudo, fio dores,
preparo, cardo, teço redes multicores
no meu tear – a vida – assim versejo e canto.
Brasília, 3 de Agosto de 2011.
Seivas d'alma, pág. 115
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 03/08/2011
Alterado em 17/08/2020