NOSTALGIA
Alembro-me dos tempos de aventura,
os dias tão felizes, ao teu lado,
que, agora, desentranho do passado,
o coração repleno de ternura;
tu eras jovem e eu usava tranças,
e então sonhava mil sonhos dourados,
nas redes da inocência acalentados,
cobertos com um manto de esperanças;
na praça da igrejinha, pelos bancos,
sentávamos juntinhos e felizes,
sem conhecer, da vida, as cicatrizes,
trocando entre nós olhares francos;
e a brisa deslizando em teus cabelos,
tornavam mais fermosos teus sorrisos,
teus lábios me roçavam, indecisos,
envergonhados com meus tolos zelos;
nas noites belas, céus aveludados,
seguíamos felizes, sem malícias,
sorvendo, desse amor, suas delícias,
pisando mil estrelas, descuidados;
por sobre as minhas vestes alvadias,
teus olhos deslizavam com mil pejos,
e eu me quedava morta de desejos...
Ah! Que saudades desses belos dias!
Ainda sinto desse amor o lume,
e pulsa dentro em mim essa saudade,
que chega sem detença e assim me invade,
deixando pelo ar o teu perfume.
Os dias se passaram! Meses! Anos!
E tudo se passou depressa, aos trancos,
e os meus cabelos já estão mui brancos,
sofri imensa dor e desenganos;
em mim me restam soledades tantas,
recordações dos tempos de inocência,
saudades tuas, esta confidência,
lembranças belas, tristes, sacrossantas;
e ao redobrar dos sinos, que tristura,
revejo tua imagem na neblina
do tempo que passou, mas não termina
com terno amor que dentro em mim perdura.
Brasília, 10 de Março de 2011.
REALEJO, pg. 14-15
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 10/03/2011
Alterado em 25/07/2020