E por falar em saudade...
eu trago tanta no peito
que quando sozinha deito
sorrateira ela me invade,
sem aviso e sem alarde...
Saudade que me tortura
e que me leva à loucura,
que rompe sem dó, sem pejo,
e canta qual realejo
nesta noite morna e escura...
Saudade que fere e corta
sangrando minha alma triste,
e tudo que em mim existe,
arrombando minha porta,
e pulsante em mim resiste...
Saudade de quem perdi,
dos prazeres que senti,
dos beijos teus encantados,
de outros tantos não me dados,
dos tempos bons que vivi...
Saudade que aninha em mim,
como o pássaro no ninho
sem amor e sem carinho,
numa solidão sem fim,
e saudoso igual a mim...
Que corta tal qual navalha,
e que na alma logo espalha,
invadindo minhas veias,
sem nenhum pudor, sem peias...
E no coração encalha...
Saudades, qual lua cheia,
os meus cantos alumia,
que me invade noite e dia
e no passado se esteia...
Saudade qual fina areia
que invade todos os cantos,
minha alma, todos recantos
dos meus íntimos espaços,
e que me prende em seus braços,
provocando um mar de prantos...
Saudade cor de tristeza,
que mina meu corpo e alma,
que me rouba a paz, a calma,
plantando tanta incerteza,
dentro em mim, na profundeza...
Saudade, tenho saudade,
dos tempos de liberdade,
sem tristeza e nostalgia,
quando só tinha alegria,
mas agora é muito tarde!
É muito tarde, bem sei...
Porque se saudades sinto,
e vivo em seu labirinto,
foi porque demais amei,
e sem resguardos me dei...
Semeando dentro em mim,
saudades que não tem fim
Mas também tive amores
seus carinhos, seus ardores
Por isso versejo assim...
Saudade que em mim habita,
que minha alma assim esgarça,
que chega e nem se disfarça,
que no meu imo palpita,
e me deixa sempre aflita,
é a razão de meus versos,
de meus sonetos diversos,
fonte de amor, estesia,
porque saudade é poesia
nos sentimentos imersos.
Edir Pina de Barros