A dor do poeta
Um pobre poema obscuro
lhe sai da alma tão dorida,
sem fulgor, encanto, vida...
tristonho e tão inseguro,
mas de todos o mais puro!
Brotou da dor que sentia,
sem força, sem estesia,
mas prenhe de amor, candura,
apesar de tanta agrura
não perdeu-se da poesia.
Mas nada curou seu tédio,
sua dor, sua tristeza
apesar da candideza
e da poesia, o assédio,
não lhe serviu de remédio...
Seguiu riscando seus versos
poemas dos mais diversos,
sem paz pra poder compor,
mergulhado na sua dor,
nos sentimentos dispersos!
Co'a dor o poeta escreve
nas noites tristes, vazias...
Tão prenhes de fantasias,
mil versos ele se atreve
e no papel os inscreve,
sem pudor, sem heresia
a sua dor, travessia...
Arranca d'alma seu texto,
nesse tom, nesse contexto
seu clamor, sua poesia...
A dor do poeta escorre
no papel liso, alvadio,
d'antes branco, bem vazio
que silente, ela percorre
como a lágrima que corre
na sua tez, seu semblante,
seguindo sempre adiante...
Riscando seus versos chora,
até o raiar d'aurora
sem ninguém que o acalante...
Seu sentimento ele escava
revira seus mil porões,
donde escorre aos borbotões
como do vulcão, a lava
seu pranto que em si velava...
Nada cala o bom poeta
quando seu verso arquiteta,
Quando a dor tranforma em verso,
buscando no imo, imerso
torna-la assim bem concreta...
Mesmo que seja obscura
a tradução dessa dor,
trabalha qual lavrador
que lavra a terra dura,
com pujança, com ternura...
Semeia dor com palavras
cuidando das suas lavras
regando-a com o seu pranto
com candura, com encanto,
os frutos de sua agrura.
E quando um poeta escreve
transmuta tudo em poesia
com seu sofrer se extasia,
seu sentimento descreve
e calar sequer se atreve!
Arranca d'alma, sem dó,
tendo na garganta um nó,
o verso que dentro viça,
e que sua lira atiça,
quando está dorido e só.
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 19/05/2010
Alterado em 10/08/2021