Mama África
Da humanidade, o berço! Sim! Meu Deus!
Que triste a tua história! Que desdita!
Do ventre tantos filhos teus, aflita,
partiram, sem poder dizer adeus,
por atos vis dos impios europeus.
Na travessia o banzo, a dor e a morte,
sem rumo, sem saída, alguma sorte,
o mar tornou-se imenso cemitério,
em nome de senhores de outro império,
os filhos teus tiveram dura sorte.
Brasil e Haiti, ó, mãe desventurada,
dividem, entre si, a mesma história,
que não se apaga fácil da memória,
a escravidão, que a todos só degrada,
deixando tanta lama em sua estrada.
E cá, no meu país, teus descendentes,
lutando contra os vis, tão inclementes,
por terra, por saúde e por escolas,
nas ruas, a pedir comida, esmolas,
ou nas cadeias mofam indigentes...
No Haiti também lutaram os teus filhos,
valentes, firmes, contra os batalhões,
romperam mil muralhas, mil grilhões,
fizeram nova história, novos trilhos,
vencendo, sem temor, os seus caudilhos.
Mas retornaram logo os seus sofreres,
senhores dos impérios, dos poderes,
uma vez mais calaram sua voz
e dentre os seus estava o vil algoz...
Voltaram a ser cativos, pobres seres!
Demais tristeza, ó, Deus, a história encerra!
As vítimas de outrora são feridas,
ao ver sumir no chão, amores, vidas,
enquanto tanta gente chora e erra,
o terremoto a outros já soterra...
E do “progresso” pagam alto preço,
desrespeitadas, sem qualquer apreço,
tratadas com desprezo, sem piedade,
por quem detém poder, força e vaidade,
que em tudo está presente e bem expresso.
Injusto e desigual, o mundo, ó Deus!
Que horror! Ó Mama África, a desdita,
distante, do além-mar, olhar aflita,
os filhos teus morrerem, sem adeus.
E ver, o padecer, dos filhos teus,
assim distante, muitos, aos milhares,
aos gritos que, cortando os verdes mares,
teu ventre sangram, chão originário,
diante tal horror, desse cenário
de morte, a destruir atuais Palmares.
Despertem! Oh, poetas, com teus versos!
Oh! Castro Alves! Grita lá dos céus!
Arranca desses brutos densos véus
que causam ao mundo males tão diversos,
com seu poder, desejos tão perversos.
Oh! Deuses ancestrais! Olhai teus filhos
que vivem nas favelas, maltrapilhos
por causa do poder, que move loucos,
que ferem terra-mãe, pensando em poucos:
livrai o mundo desses vis caudilhos.
Mandela! Luther King e Steve Biko!
Zumbis daqui, do além e de outros cantos!
Os teus irmãos derramam mar de prantos,
enquanto os poderosos ficam ricos,
sem ter qualquer limite, os impudicos.
Se as naus da morte não navegam mais,
os teus irmãos enfrentam vendavais:
no Haiti e no Brasil estão sem terra,
e tanta dor a dura vida encerra
que nunca finda a dor, pungentes ais.
Cuiabá, 24 de Janeiro de 2010.Livro Cantos de Resistência, páginas 111 a 113
Parabéns pelo cordel
Que trata do nosso irmão
Que sofre a desolação.
Fizeste bem teu papel!//
Com ele, amargaste o fel
Da falta de amor fraterno
Que torna a vida um inferno
Daqueles filhos de Deus
Pois são irmãos teus e meus
E são, em essência, eternos.
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 24/01/2010
Alterado em 02/08/2020
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