Fontes de minha poesia
Nos amores envolventes
eu mergulho, feito peixe,
com carinho, sem desleixe,
busco versos comoventes
para os meus parcos repentes...
Gosto de tanger a lira,
arrancar fogo da pira,
fazer fremir corações,
e destilar emoções,
quais venenos, as serpentes...
Minha sina é versejar
a dor que sinto no peito,
rabiscando, com respeito,
o pranto que quer rolar,
e do meu peito fez lar!
Cada verso é uma gota
dessa minha alma tão rota
que não desiste de amar,
no continente, no mar,
sempre vivaz, tão marota.
Respingadas no papel
minhas lágrimas são versos
com sentimentos diversos,
são estrelas do meu céu...
Não faço, não, escarcéu!
Destilo a dor com enlevo,
no papel ganha relevo,
com tintas do coração,
ganha forma de oração,
quando nele assim escrevo!
Os meus versos são pedaços
de minha alma tão amiga,
que mesmo sendo sofrida,
vai seguindo esses meus passos,
apesar de seus cansaços,
em meu corpo quer guarida,
senhora de minha vida,
que nunca me faz cativa,
embora tão combativa,
não me põe peia, nem brida...
Às vezes penso comigo
que busco p’ra mim a dor,
no céu, no mar, onde for,
para dar-lhe o meu abrigo,
(o meu corpo é seu jazigo)
p’ra transformá-la em repentes,
que viçam assim, insistentes,
como sementes nas matas,
ou na beira das cascatas,
que adiante seguem contentes.
Não quero perder no mundo,
meus versos, minha poesia,
a primorosa estesia,
o seu sentido profundo
no qual mergulho e me afundo
os densos versos buscando,
depressa vou rabiscando
retendo seu doce encanto...
Que venha e que role o pranto,
quero seguir versejando!
Faço repente, cordel,
sonetos e versos tantos,
sou trovadora, que ao léu,
vai aspergindo seus prantos,
seus fulgores, desencantos!
Toda emoção é importante,
mesmo que seja cortante,
matéria-prima de versos,
que dentro de nós, imersos,
podem surgir num instante!
Que venham as emoções,
e deixem minha alma arada,
toda rota e acutilada,
que me tragam aflições,
provoquem em mim comoções...
Transmuto tudo em poesia,
tudo, tudo me extasia...
Sou repentista atrevida,
passageira nesta vida,
sem travas, sem heresia...
Meus versos são brancas flores,
que perfumam meu recanto,
eu as rego com meu pranto,
que se exala em seus olores...
São frutos de minhas dores,
dos meus momentos felizes,
e são também cicatrizes,
deixadas por velhas puas
sobre as minhas carnes nuas,
e têm profundas raízes...
Cuiabá, 12 de Dezembro de 2.009.
LIVRO - REALEJO, páginas 68-71
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 12/12/2009
Alterado em 25/07/2020