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Sentimento sertanejo!
 

Se você me tem amor
se você me ama, de fato,
esse esquisito contrato,
nem precisa me propor...
Não entendo meu senhor,
não careço de tal ato,
desse amor assim de trato!
Sentimento sertanejo
é o que sinto e aqui versejo,
que nos meus versos retrato.

Meu amor é natureza
simples como luz do dia,
tem passarada, alegria,
e canta com singeleza,
da rocha tem a firmeza,
tem frescor d’água em cascata
bem no cerne lá da mata.
onde viça orquídea em flor,
esse meu caboclo amor
é livre, não se contrata!

Meu amor é compromisso
bem simples, descomplicado,
sendo forte é delicado,
mas todo cheio de viço,
de poderoso feitiço;
e dentro de mim deságua
enchendo meus olhos d'água,
que limpa, bem transparente,
vai correndo bem contente,
sem represar dor e mágoa.

Tão certeiro como o dia
assim é o meu amor,
tem o perfume da flor,
que bem distante irradia

a luz da paz, da poesia;
não tem nada, não, de errado,
é puro, terno, encantado,
fogoso, demais afoite,
todo dia e toda noite

ao lado do bem amado.

Belo como flor de ipê
que viça  no meu cerrado,
meu amor é enflorado,
desse que raro se vê,
e nos livros não se lê!
É feito de primavera,
que todo caboclo espera,
depois de inverno tão frio,
é forte, dá calafrio,
mas nunca se destempera.

Sendo assim eu vou m'embora
vou voltar para o meu rancho,
onde tenho amor tão ancho,
mais belo que a doce aurora...
Não fere, nem tem espora!
Eu prefiro meu José,
o ranchinho de sapé,
meu doce lar, doce ninho,
acordar com passarinho.
cruzar o cerrado a pé!

Esse caboclo moreno,
que nasceu numa maloca,
só desejo em mim provoca,
não tem malícia, veneno,
é tão vivaz, tão sereno!
Tem olhar aveludado,
sempre terno, enamorado,
cheio de açucena em flor
e no amor é um doutor
pela vida diplomado!

Bom cantador, repentista,
canta que nem sabiá,
canta aqui, canta acolá
bem melhor que muito artista,
não é frio, calculista!
Demais fogoso e faceiro,
e é dono de doce cheiro!
Seu amor não tem contrato,
e nem precisa, de fato,
comprar-me com seu dinheiro!

Não sufoca, nem duvida,
esse verdadeiro amor...
Vou-me embora, meu senhor
sou dona da minha vida,
não quero tua guarida!
Eu sou cabocla da mata,
dessas que ninguém desmata,
eu sou mais livre que a brisa,
que no meu corpo desliza,
meu amor ninguém contrata!

 Cuiabá, 21 de Outubro de 2009.

Livro: REALEJO, pp. 40 -43


 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 21/10/2009
Alterado em 25/07/2020
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