Oh! Deixa-me chorar!
Oh! Deixa-me chorar a dor que em mim lateja,
secar não tenta, não, a gota que já brota,
porque nasceu de mim, minou na minha grota
e ensaia já cair, na tez rolar sobeja.
E não me importo, não, que todo mundo veja
a dor que me corrói, que ao mundo, enfim, denota,
que caia em minha tez e escave a própria rota,
e deixe na alma paz, que é sempre benfazeja.
Oh! Deixa-me chorar, viver o luto todo,
e desfazer-se em mim, e não tornar-se lodo...
Oh! Deixa-a, assim, correr, até formar cascata.
Soltar, desejo, sim, o nó que não desata,
que embarga a minha voz, e tem pressão exata:
que caia o pranto todo, e role com denodo.
Cuiabá, 19 de Outubro de 2009.
Absinto e mel, pg. 75