Se ôce me tem amô, Se ôce me ama, de fato, Não precisa me propô, Tão esquisito contrato!
Sou cabocla, por favô, não careço de tal ato! Num entendo, meu senhô, Desse amô assim de trato!
Meu amô é natureza, Simples como luz do dia, Murmura como cascata...
Como rocha tem firmeza, Da passarada, a alegria! Desse amô num se contrata! Meu amô é cumprumisso tão simples, descumplicado tão forte, cheio de viço!
Brotou assim transparente como lindo olho d'água murmurando lá na mata!
Tem o perfume da flô tão simplizinha, cheirosa que brota lá no cerrado!
Assim é esse meu amô, Tão certeiro como o dia que nasce depois da noite!
É fogoso, é afoite num tem nada de errado, é puro, tão encantado!
Sendo assim eu vou m'embora vou voltá lá pro meu rancho, todo feito de sapé!
Acordá c'os passarinho! Prefiro vivê com José, que me tem amô tão ancho!
Esse caboclo moreno, que nasceu numa maloca, no amô é um doutô!
Tem os olhos enluarado, que queima que nem veneno tem o perfume da flô!
É cantadô, violeiro canta que nem sabiá, e no remo é ligeiro!
É tão fogoso e faceiro, e vive sempre a cantá, e é dono de doce cheiro!
Seu amor num tem contrato, num duvida, nem sufoca... é um verdadeiro amô!
Vô voltá pra minha vida, eu sou cabocla da mata, meu amô ninguém contrata! Depois de acabado o sonetilho, deu vontade de dizer mais! Desculpem o surto!
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 06/06/2009
Alterado em 07/06/2009