João! Cante lá que eu canto cá!
Ao recantista João, o Gomes da Silveira
A dor, caro amigo, não campeia
Somente o mundo assim distante!
Aqui, entre nós, a morte se semeia
De forma fria, brutal e aviltante!
Olhemos assim tudo em derredor
Tantas vidas sem pudor ceifadas
O povo humilde é grande sofredor
Nas mãos de pessoas abastadas!
Trabalho escravo, deslocamentos
De povos e famílias desarmadas...
A paz não se concede um momento
Suas terras brutalmente são tomadas!
Meninos de rua! Idosos desprezados!
Dormitam nas calçadas do abandono
Índios e negros ainda vivem apartados
Das terras que d’antes eram donos!
Ah! Meu amigo...há aqui tanto João
Tanta Maria e Ubirajara assassinados
Cante aí a guerra lá no Paquistão
Cantarei cá o que vejo ao meu lado!
Juntemos nossos cantos num jogral
Em bom e alto tom, dissonantes
Engrossando as vozes pelo final
De tantos atos vis e degradantes!
Aqui a terra por sangue está lavada
Lá também impera a falta de justiça
Juntemos nossas vidas indignadas
Diante de tanto desamor e vil cobiça!
Cante lá que eu canto cá, meu camarada
Como o grande poeta Patativa já dissera
Nossa poesia assim será consagrada
Contra a injustiça que no mundo impera!
Afinal todos eles são sobreviventes
Da impiedosa e dura mão do Ocidente!
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 03/01/2009
Alterado em 05/01/2009