Textos

MANOEL DE BARROS  (92 anos )


"Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira".

          Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916. Viveu em Corumbá por muitos e muitos anos! Hoje reside em Campo Grande , Mato Grosso do Sul, Brasil. É poeta, advogado e fazendeiro.
          Com um ano de idade Nequinho, apelido familiar carinhoso, passou a morar na fazenda que seu pai ergueu. "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno."
          Seus pais o mandaram para estudar interno em Campo Grande e, depois, Rio de Janeiro. Envolveu-se com as letras depois que entrou em contato com os livros do padre Antônio Vieira.
          "Foi quando percebi que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas com a verossimilhança.", escreveu ele.
          Aprendeu com Arthur Rimbaud (1854-1871) - "Une Saison en Enfer" – que na poesia é possível misturar todos os sentidos.
Engajou-se na Juventude Comunista e leu Marx. Escreveu, aos 18 anos de idade - “Viva o Comunismo”, que não foi publicado, que o salvou da prisão. O policial viu o título - "Nossa Senhora de Minha Escuridão" – levou os originais e deixou-o livre! Era o único exemplar!
          Decepcionou-se com Carlos Prestes ao ouvi-lo no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, depois que ele foi libertado dos dez anos de prisão. E nunca mais se esqueceu: "Quando escutei o discurso apoiando Getúlio — o mesmo Getúlio que havia entregue sua mulher, Olga Benário, aos nazistas — não agüentei. Sentei na calçada e chorei. Saí andando sem rumo, desconsolado. Rompi definitivamente com o Partido e fui para o Pantanal".
          Passou uns tempos no Peru e na Bolívia "tomando pinga de milho". Depois morou um ano em Nova York. Estudou sobre cinema e pintura no Museu de Arte Moderna. O contato com obras de Miró, Van Gogh, Picasso, Chagall, Braque o levou a redimensionar seu sentido de liberdade. Suas poesias eram também inspiradas em imagens e filmes. Encantou-se com Chaplin e sua falta de preocupação com a linearidade.
          Sua primeira revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade , quando era aluno do Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro. Nessa residiu até 1949, quando terminou o curso de Direito. Depois, muito depois, virou fazendeiro no pantanal, que passou a cantar em seus poemas.
          Seu primeiro livro foi publicado há mais de sessenta anos, no Rio de Janeiro -"Poemas concebidos sem pecado". Exatos vinte volumes artesanais, feito por vinte amigos!
          Suas poesias foram se tornando mais conhecidas através das colunas de Millôr Fernandes – nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil – nos anos 80. Depois por meio de Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre outros. A Editora Civilização Brasileira, influenciada pelas opiniões de intelectuais, publicou seus escritos sob o título de "Gramática expositiva do chão".
          Na atualidade é um poeta de renome nacional e internacional, é tido como uns dos mais originais no século XX. Seu livro “Compêndio para uso dos pássaros” foi contemplado, em 1960, com o “Prêmio Orlando Dantas”, pela Academia Brasileira de Letras.
          Sua obra “Gramática expositiva do chão” recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, em 1969. Em 1997, o seu "Livro sobre nada” recebeu o Prêmio Nestlé (nacional). No ano seguinte o Ministério da Cultura concedeu-lhe o Prêmio Cecília Meireles (literatura/poesia).



Obras
1937 — Poemas concebidos sem pecado
1942 — Face imóvel
1956 — Poesias
1960 — Compêndio para uso dos pássaros
1966 — Gramática expositiva do chão
1974 — Matéria de poesia
1982 — Arranjos para assobio
1985 — Livro de pré-coisas (Ilustração da capa: Martha Barros)
1989 — O guardador das águas
1990 — Poesia quase toda
1991 — Concerto a céu aberto para solos de aves
1993 — O livro das ignorãças
1996 — Livro sobre nada (Ilustrações de Wega Nery)

1998 — Retrato do artista quando coisa (Ilustrações de Millôr Fernandes)
1999 — Exercícios de ser criança
2000 — Ensaios fotográficos
2001 — O fazedor de amanhecer
2001 — Poeminhas pescados numa fala de João
2001 — Tratado geral das grandezas do ínfimo (Ilustrações de Martha Barros)
2003 — Memórias inventadas - A infância (Ilustrações de Martha Barros)
2003 — Cantigas para um passarinho à toa
2004 — Poemas rupestres (Ilustrações de Martha Barros)

Os dados acima foram obtidos em livros do autor e no site da Fundação Manoel de Barros.


Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 17/12/2008
Alterado em 07/01/2009


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